Por: Thiago Esteffanato
O Liberal Regional
A professora Cristina Maria Alves Gabas de 44 anos chega na Santa Casa de Araçatuba de segunda a sexta-feira de manhã. Ela pega o prontuário de crianças e adolescentes e segue para os quartos para um primeiro contato com seu aluno. Ela não sabe se esse aluno ficará sob sua orientação por dias ou meses. Nos corredores todo mundo conhece a simpática professora que além de ensinar, esbanja carisma por onde passa.
Sua rotina se equipara a de um profissional de saúde. Com o passar do tempo ela teve que aprender a lidar com as chegadas e partidas. “Convivo com perdas, crianças que atendo hoje podem falecer amanhã e isso me deixa muito triste”, contou Cristina. O que diferencia a rotina de Cristina de atividades convencionais em salas de aulas é que cada um tem uma história de sofrimento, superadas em parte pela atividade pedagógica realizada.
A Santa Casa de Araçatuba é o único hospital da região que conta com atividade escolar em suas dependências. Os mais próximos que possuem esse tipo de serviço são os hospitais de Lins e São José do Rio Preto.
As pacientes que receberam a abordagem pedagógica da professora foram a adolescente Thays Costa Prando, 17 anos, internada há oito dias por conta de uma amigdalite e a pequena Jenifer Raíssa Ribeiro, 11 anos, internada há cinco dias por conta de taquicardia, bronquite e infecção urinária.
Atualmente as meninas estão de férias escolares, mas caso estivessem em período letivo não precisariam se preocupar. As aulas que recebem no hospital contam como as recebidas na sala de aula.
Jenifer disse que o clima do hospital não é dos melhores. “É triste, tem muitas crianças chorando, mas a forma como somos tratados já ajuda muito”, disse a menina que cursa o 7º ano na escola estadual Arthur Leite Carrijo no bairro Umuarama.
Dependendo do caso clínico, as crianças são atendidas em seus leitos hospitalares ou então numa sala que fica no sexto andar da unidade de saúde. A professora que atende no hospital é cedida pela rede estadual de ensino. A classe hospitalar é vinculada á escola estadual Doutor Joubert de Carvalho. De acordo com a coordenadora de educação especial da Diretoria de Ensino de Araçatuba, Ana Maria Bombonati Seixas, o que acontece na sala de aula consta num currículo escolar. “A professora tem ligação com a escola. Ela avalia o que o aluno está cursando e passa atividades referentes ao currículo daquele ano”, explicou Ana Maria.
A professora Cristina atua na Santa Casa há dois anos. A coordenadora diz que a escolha para atuar no hospital é feita a dedo. “O professor para atuar num hospital tem que ser especial. Além do contato com os pais e alunos eles também devem lidar com enfermeiros e médicos”, disse Ana Maria.
“Aqui o trabalho é mais direto e individualizado. É você e o aluno. As condições de internação conferem uma atenção diferenciada. Gosto muito de trabalhar aqui”, finalizou sorrindo a professora Cristina.
LEI
Desde 1995, a legislação brasileira reconhece o direito de crianças e adolescentes hospitalizados ao acompanhamento pedagógico-educacional. É obrigação dos sistemas de ensino e de saúde municipal e estadual organizar o atendimento educacional especializado para estudantes impossibilitados de frequentar as aulas por motivos de saúde. Segundo a Santa Casa, neste ano em média, a sala atendeu em torno de 200 alunos por mês. O ensino é voltado para crianças e adolescentes de até 17 anos. Por isso a atividade não se limita à Pediatria. Crianças internadas em qualquer ala do hospital, incluindo isolamento e Unidade de Terapia Intensiva (UTI), podem receber as atividades pedagógicas. Em média 11 crianças em idade escolar e em condições de receber as aulas, permanecem internadas na Santa Casa de Araçatuba, diariamente. A estrutura de ensino envolve materiais específicos fornecidos pela Diretoria de Ensino. Desde outubro deste ano, o projeto ganhou um novo aliado: uma brinquedoteca montada pela direção da Santa Casa. Nela são realizadas atividades lúdicas e leitura com os pacientes em condições de sair do leito.
ESTADO
Atualmente, a rede estadual de ensino conta com 63 docentes que realizam, por mês, uma média de 700 atendimentos a crianças e adolescentes nos hospitais em que a Educação mantém suas 63 classes hospitalares. O número de classes hospitalares no Estado de São Paulo cresceu cerca de 30% nos últimos cinco anos. Nos hospitais, os alunos assistem às aulas em classes ou no próprio leito. Pacientes em estado terminal e que estão na UTI também recebem a visita dos professores para sessões de contação de histórias.