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13/03/2009 - Santa Casa realiza cirurgia restrita a hospitais-escola

Um edema (acúmulo de líquido) agudo do pulmão -- provocado por miocardiopatia dilatada (grupo de doenças cardíacas nas quais o coração dilata, sendo incapaz de bombear um volume de sangue suficiente para suprir as necessidades do organismo) -- motivou a internação da professora aposentada Maria Dilza Cavalli Torres, 72 anos. Ela permaneceu  internada na UTI , por oito dias, mais 10 dias em ala convencional.

O quadro agudo, causado pela descompensação de insuficiência cardíaca, foi provocado pela disfunção do marcapasso artificial que havia sido implantado no coração da aposentada em 2005, após ela ter sofrido um infarto, o segundo ocorrido no espaço de sete anos, entre os primeiros sintomas e o diagnóstico da doença.

O marcapasso cardíaco artificial tem, dentre suas funções, a finalidade de garantir fluxo sanguíneo suficiente para manter o metabolismo cerebral em condições fisiológicas. Interligado a um cabo-eletrodo, conduz ao coração os estímulos necessários para garantir a freqüência (fixas em alguns casos, variáveis em outros) dos batimentos. O funcionamento correto dos equipamentos garante a função de bomba, que é exercida pelo coração.

Mas não era isso o que ocorria com os dispositivos implantados na paciente Maria Dilza. Avaliações realizadas pelos cirurgiões cardiovasculares Hélio Poço e Rogério Caravante, do Serviço de Cirurgia Cardiovascular da Santa Casa de Araçatuba, indicaram que o cabo-eletrodo implantado no ventrículo esquerdo não estava mais na posição correta, “fator que fez com que o marcapasso perdesse sua função”, explica o cirurgião Rogério Caravante.

O eletrodo tem o papel de levar estímulos elétricos produzidos pelo marcapasso artificial. No caso dessa paciente, sua função era a de otimizar a diferença de velocidade dos batimentos ventriculares (dissicronismo ventricular) e produzir o mesmo número de batimentos cardíacos (frequência fixa).
“Ela (Maria Dilza) poderia viver com os equipamentos nessas condições, porém seria sempre uma paciente sintomática (em sofrimento permanente, causado pelos sintomas da doença). A patologia se tornaria cada vez mais grave”, explica o cirurgião Rogério Caravante.

A equipe médica diagnosticou a necessidade de submeter a aposentada a uma cirurgia para ressincronização cardíaca. Trata-se de um procedimento invasivo para substituição do marcapasso convencional por ressincronizador. A técnica que embora já exista há mais de dez anos não havia, ainda, sido realizada completamente, pela Santa Casa de Araçatuba.

Em 2005, o cirurgião cardiovascular Hélio Poço Ferreira, realizou a substituição do gerador do marcapasso de um paciente, que custeou o tratamento integralmente.

Referência regional para implantação de marcapassos (em média, o hospital implanta 200 unidades/ano), a Santa Casa de Araçatuba não é credenciada pelo Sistema Único de Saúde (SUS) para implantar ressincronizadores cardíacos. O procedimento é considerado de alto custo e o SUS limitou a realização a alguns centros médicos.

Dentre os credenciados no interior paulista, estão  hospitais-escola localizados em Campinas, Ribeirão Preto, São José do Rio Preto e Sorocaba.

O procedimento realizado na paciente Maria Dilza Caravalli Torres foi autorizado pelo Instituto de Assistência Médica ao Servidor Público (IAMSP), do qual ela é usuária.


O cirurgião cardiovascular Rogério Caravante admite que o custo do procedimento, hoje em torno de R$ 35 mil, dificulta a popularização da técnica. Porém, os benefícios que agrega à qualidade de vida dos pacientes ajudariam o SUS a reduzir despesas decorrentes de internações, que na maioria dos casos inclui UTI, ventilação mecânica e medicação de alto custo.

De acordo com o médico, o ressincronizador possibilita melhor controle do problema do paciente, pois “conseguimos monitorar a insuficiência cardíaca, diminuindo com isso as reinternações e restringindo o tratamento ao âmbito ambulatorial”.

A cirurgia
A cirurgia para o implante do ressincronizador na aposentada Maria Dilza Cavalli Torres foi realizada em 16 de fevereiro deste ano. O procedimento durou duas horas e foi realizado por uma equipe formada por sete profissionais e coordenada pelos cirurgiões Hélio Poço e Rogério Caravante.

A cirurgia foi realizada no Centro Cirúrgico, em  na sala dotada de arco cirúrgico (fluoroscopia), equipamento fundamental ao monitoramento de todas as etapas do procedimento.

A paciente chegou consciente à sala cirúrgica e assim permaneceu por boa parte da fase preparatória. Embora fragilizada em decorrência da crise que provocou sua internação, Maria Dilza estava tranqüila e confiante. Na véspera da cirurgia, ela afirmou à reportagem da assessoria de imprensa da Santa Casa que esperava estar diante da solução de um problema que se arrastava há anos.

“Quando coloquei o marcapasso, em 2005, imaginava que estaria livre dessa doença. Mas, desde o início de 2009, comecei a sentir que algo não estava bem. Sentia muito cansaço, falta de ar e nem saía mais de casa”.

A paciente foi operada sob efeito de anestesia local e sedação, procedidas pelo anestesista Rogério Albuquerque. O implante dos eletrodos é feito por via venosa, sob monitoração radioscópica (exame dos tecidos e estruturas profundas do corpo por meio de raios X).

Foi também através de veias da região torácica, e com o auxílio de um introdutor, que o cirurgião conduziu o novo eletrodo, posicionando-o corretamente no coração. “A retirada do introdutor é um dos momentos mais delicados da cirurgia”, afirma Caravante. Ele explica que um erro de manobra pode ocasionar o deslocamento do eletrodo, “e com isso perdemos todo o procedimento”.

O gerador (marcapasso) é implantado través de incisão da região pré-peitoral, direita ou esquerda, dependendo do paciente e do tipo de aparelho que será implantado. No caso da paciente Maria Dilza, o marcapasso anterior havia sido implantado na região peitoral direita, e os cirurgiões optaram por utilizar a mesma região.

Após a cirurgia, a paciente permaneceu por 2 horas na sala de recuperação intensiva e posteriormente foi removida para um quarto convencional da ala de internações clínicas e cirúrgicas da Santa Casa, que funciona no segundo andar da nova torre do hospital. A recuperação foi considerada satisfatória pela equipe médica. A paciente foi liberada a voltar para casa 3 dias após a cirurgia.

Uma semana depois, Maria Dilma retornou para retirada dos pontos e verificação da cicatrização da incisão. Ela deverá retornar ao hospital num período que varia de um a dois meses, para alterações que forem necessárias ao ajuste do marcapasso. É nesse retorno que a equipe médica conhecerá o resultado do implante.

A alta plena só ocorrerá após um período de adaptação do coração com os novos equipamentos, que pode variar de seis a doze meses. A ressincronização é avaliada através de medidas indiretas efetuadas por um analisador de marcapassos. “A avaliação desses parâmetros possibilita a modificação da frequência dos batimentos, adequando-os às necessidades do organismo da paciente”, explica o médico.

Para a aposentada, que em 72 anos de vida e foi vitimada por dois infartos (1998 e 2001), essa nova cirurgia representa a esperança de “viver de novo”. Ao sair do hospital, ela não escondia o novo ânimo e o reconhecimento à equipe médica e ao hospital. “Fui muito bem tratada, aqui. Eles são ótimos. Através deles, Deus me deu uma oportunidade para continuar vivendo”.


Serviço

Cirurgia para Implante de Ressincronizador Cardíaco

Data: 16/02/2009
Local: Santa Casa de Araçatuba

Convênio: IAMSP
Duração: 2 horas


Equipe Médica

Cirurgiões cardiovasculares:
Dr. Hélio Poço  Ferreira e Dr. Rogério Caravante

Anestesista: Dr. Rogério Albuquerque

Técnico em Radiologia: Rafael  Luiz Lima de Castro

Instrumentação: Luís Cláudio Padilha

Auxiliares de Enfermagem: Tereza Watanabe  e Aparecida Mazzini

Apoio técnico do fabricante do marcapasso: Luciano

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