No Dia Mundial do Diabetes, comemorado nesta quinta-feira (14), o médico endocrinologista, professor doutor Isio Carvalho de Souza, que atua na equipe de plantonistas da UTI Adultos da Santa Casa de Araçatuba, alerta sobre o impacto que a doença não tratada corretamente provoca na vida das pessoas. “Metade dos pacientes atendidos por infarto são diabéticos e cerca de 70% dos pacientes vitimados por AVC (Acidente Vascular Cerebral) também têm diabetes”, informa o endocrinologista, ao traçar o perfil dos atendimentos de urgência e emergência que poderiam ter sido evitados ou minimizados se os pacientes tivessem tratado do diabetes conforme recomendação médica.
O diabetes, especialmente o tipo 2, afeta milhões de pessoas em todo o mundo, e no Brasil, estima-se que haja cerca de 16 milhões de portadores. Contudo, muitos desconhecem sua condição, o que agrava ainda mais o quadro de saúde pública. Isio de Souza, que na Santa Casa de Araçatuba também atua na ala de internação de pacientes clínicos, enfatiza que, além da alta prevalência da doença, há um problema sério de falta de conscientização. “Muitas pessoas só descobrem que são diabéticas quando já apresentam complicações graves, como a perda de visão ou problemas renais.” Ele cita o exemplo de pacientes que chegam ao oftalmologista ou ao Hospital do Rim e descobrem que são diabéticos há anos, sem saber. Por sua experiência, Dr. Isio estima que o “delay” médio entre o início da doença e a descoberta é de 8 anos.
“O diabetes é uma doença crônica silenciosa, muitas vezes assintomática, que impacta diretamente a saúde cardiovascular. A glicose elevada no sangue afeta progressivamente o sistema vascular, o que acelera o processo de envelhecimento e danifica artérias, veias, coração e rins. Isso resulta em complicações graves como infarto, AVC, insuficiência renal, perda de visão e comprometimento dos membros inferiores”, esclarece o especialista. Isio de Souza, que em 25 anos de atuação na especialidade já tratou 17 mil pacientes diabéticos, também explica que as consequências do diabetes vão além. “Nós, especialistas em diabetes, costumamos dizer que a doença de Alzheimer é o diabetes tipo 3 devido à forte ligação entre a resistência à insulina e a degeneração cerebral.”
Impacto na saúde pública
No Brasil, o diabetes tipo 2 é responsável por um número alarmante de mortes. Somente em 2023, foram 73 mil óbitos diretamente relacionados à doença, um número muito superior ao de mortes causadas por câncer de próstata, por exemplo, que somaram 17 mil no mesmo período. Além disso, o diabetes é a principal causa de cegueira, amputações e insuficiência renal, colocando ainda mais pressão sobre o já sobrecarregado sistema de saúde. Na Santa Casa de Araçatuba, a situação é igualmente preocupante. "Aqui na UTI, metade dos pacientes têm histórico de diabetes, seja na parte cirúrgica ou não cirúrgica", relata. Ele destaca ainda que o Hospital do Rim da instituição, especializado no tratamento da Doença Renal Crônica, está sempre com alta demanda, o que reflete o avanço da doença. “Se fizermos um levantamento, veremos que grande parte desses pacientes também tem complicações relacionadas ao diabetes”, explica. O endocrinologista enfatiza que, além da alta prevalência da doença, há um problema sério de falta de conscientização. Muitas pessoas só descobrem que são diabéticas quando já apresentam complicações graves, como a perda de visão, problemas renais ou necessidade de amputação de algum membro.
Mudanças no estilo de vida
A obesidade e o envelhecimento da população são dois dos principais fatores que impulsionam o aumento dos casos de diabetes tipo 2 no Brasil. “A população está comendo mal, dormindo mal e fazendo menos exercícios”, diz o especialista. Esses hábitos, associados a fatores genéticos, têm resultado no crescimento exponencial da doença. “Atendo crianças de 10 anos com 100 quilos e já com diabetes tipo 2, uma condição que, há alguns anos, era diagnosticada apenas em adultos com mais de 40 anos”, relata o Dr. Isio.
Essa realidade aponta para um futuro preocupante. Segundo ele, as projeções indicam que o número de diabéticos deve dobrar nos próximos 20 anos, o que coloca uma enorme pressão sobre o sistema de saúde. “Mesmo se construirmos mais Santas Casas ou outros hospitais, não vamos conseguir dar conta da demanda”, alerta. O endocrinologista enfatiza que “o foco que hoje está centrado na terapia precisa ser na prevenção, com mudanças no estilo de vida e maior educação sobre a doença e o tratamento adequado através de programas específicos na rede pública”. O Dia Mundial do Diabetes é uma oportunidade para refletir sobre os desafios contra essa pandemia silenciosa e o papel essencial da educação e da prevenção para evitar que mais vidas sejam afetadas. "Se não mudarmos a forma como tratamos essa doença, o futuro será ainda mais assustador", conclui o especialista.
Educação e prevenção: a chave para o controle
Para o endocrinologista da Santa Casa de Araçatuba, a solução para frear o avanço do diabetes passa, necessariamente, pela educação. Ele acredita que tanto os profissionais de saúde quanto a população precisam estar mais informados sobre os riscos da doença e as formas de preveni-la. “O Dia Mundial do Diabetes não é para dar parabéns aos diabéticos, mas para alertar sobre os perigos da doença e a necessidade de detecção precoce”, afirma.
Um dos principais problemas apontados pelo especialista é a falta de estrutura para o acompanhamento adequado dos pacientes na rede pública. Ele reconhece que o SUS oferece insulina, exames e acompanhamento, mas o sistema de saúde, segundo ele, está mais focado em tratar a doença do que em preveni-la. "É preciso criar uma rede de cuidado que comece na atenção básica, com nutricionistas, médicos e educadores físicos orientando os pacientes sobre como prevenir complicações", sugere.
O endocrinologista reforça que, com o tratamento adequado, é possível alcançar a remissão do diabetes em fases iniciais. Mas, para isso, é fundamental que a população tenha acesso a informações e cuidados preventivos. "Muitas vezes, a pessoa que chega ao posto de saúde com glicemia elevada não é orientada sobre os riscos para a sua saúde. Ela tem o direito de saber", frisa.
Pâncreas artificial
Pessoas com diabetes tipo 1, forma da doença que corresponde de 5% a 10% dos casos registrados no Brasil, já dispõem de uma técnica inovadora: o pâncreas artificial, dispositivo que simula o funcionamento de um pâncreas saudável, para ajudar no controle dos níveis de glicose no sangue.
Com mais de 90 pacientes que estão sendo tratados com o pâncreas artificial em sua clínica e nos serviços onde atende, o endocrinologista explica que o dispositivo “é uma tecnologia que combina inteligência artificial para monitorar os níveis de glicose e administrar insulina automaticamente. Esse tratamento é personalizado para cada pessoa", destaca, ao ressaltar que a tecnologia se adapta às necessidades específicas de cada paciente.
O pâncreas artificial, que pode parecer uma inovação distante, já é uma realidade em Araçatuba. "Isso parece que é tecnologia lá de fora, mas a gente tem muitos casos aqui", comenta o especialista, referindo-se à eficácia do sistema para o tratamento do diabetes tipo 1. Além de monitorar a glicose, o dispositivo injeta insulina no organismo de forma precisa, garantindo um controle mais eficiente da doença. Esse controle é compartilhado simultaneamente, através de aplicativo específico, com pessoas responsáveis pelos pacientes. “Os pais de uma criança com diabetes tipo 1, por exemplo, podem acompanhar, de onde estiverem, os níveis de glicose desta criança enquanto ela estiver na escola ou em outra atividade, e orientá-la ou quem estiver próximo sobre os procedimentos necessários até que a estabilização aconteça”, detalha Dr. Isio. Para o especialista, o grande diferencial é que os pacientes com acesso a informações e às variadas opções de tecnologia desenvolvidas para o tratamento do diabetes têm a qualidade de vida melhorada.
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